Poetray

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29 de set. de 2012

Adeus Hebe

















Diga a Deus Hebe:
O tempo é primavera
Estação das flores
E se dar como penhores da mais bela os encantos,
É desencanto
Pra quem fica em pranto
E desaprendeu a chorar.

Era, acaso, esse o propósito
Ceifar-nos a flor e as sementes
Sem dar-nos nesse entrementes
Outro espécime de virtude?

Peça-O que ao menos nos ajude
Sorver da vida o cálice amargo
Sem as rimas do teu nome
E a melodia do beijo sagrado.

 Diga a Deus Hebe:
"Muitíssimo obrigado!"

26 de set. de 2012

Atitude do amor

O amor rói,
Sem nenhum pudor,
Todo pudor que o homem constrói;
Depois,
Destrói e reconstrói,
Com todo pudor,
O amor.

25 de set. de 2012

Apelo

Meu corpo pedia para entender-se com teu corpo
Teu corpo correspondia

Nós os ignoramos
Nós nos omitimos.

Para não pecar, pecamos
Para não viver, fugimos.

Contudo,
Ainda há tempo
Ainda existimos.

Todavia, morremos;
Embora ainda nos sentimos.

24 de set. de 2012

Agora eu sei


Bom, agora eu sei
porque tive sobre mim os afagos das mãos da esperança
e a luz do sol clareando os caminhos.
Agora sei
porque fui levado pela inocência a apanhar flores entre espinhos...

Porque vivi os dias mais belos na companhia de uma amiga maravilhosa
_ uma mulher linda _ que tem generosidade nas atitudes e no olhar.
Eu vivia, embora não soubesse, junto à felicidade
sob olhar luminoso de um sol cálido
que tem o sorriso como um frescor de brisa.

Agora sei o que é o amor.
E conheço do amor todos os sentidos
embora não tenha dele o fruto colhido
tampouco tenha do seu perfume usufruído
e do sabor exótico provado, divinal...
Contudo, exultou-me a vida conhecê-lo.
E ainda meu olhar e meu coração jubilam-se ao vê-lo.

Fruto temporã
que desde a infância cobiço e minhas mãos não alcançam
que tão cedo amadureceu e tão tarde se me apresentou sua forma, sua cor, seu perfume...
e ocultou-me cruelmente o conhecer na amplitude sua beleza...
e o conceber a concepção aos sentidos toda percepção do seu sabor.

Agora crescido, engenheiro estrategista, ainda cobiço
o fruto da árvore amor;
e ainda tão debilitado e ingênuo sou
quanto a antiga criança
o velho homem, criança que errou.

Agora sei que o amor é a inocência que doma o homem;
é a caça que aprisiona o caçador.

Agora sei:
o sol é mais perfeito que o arco-íris
porque é magnífico e constante.

Vento na Pereira

Ao meio dia o vento sacudiu a árvore.
A árvore estremeceu ao ver
Oscilar entre as folhas arrancadas pelo tempo
Um rebento que não era seu.

O homem sempre hesita
_ por mais maduro seja _
Na impossibilidade de conter o vento,
Que dirá o tempo! que dita a sua peleja, que
Com suas mãos pesadas ajunta e colhe,
Estolhos expostos ao tempo
E consome a sua beleza.

Há meio dia; e vento sacode a árvore
A árvore sacode o homem
O homem sacode os tempos
O tempo a tudo revira
E colore novos rebentos.

Diz que diz que abstrato


Nada é eterno
eterno e absoluto...
Exceto o homem na sua singularidade;
por isso a nada me apego,
a não ser que me fortaleça meu ego
e aumente meu "abstratismo",
a tudo renego, porque sou homem,
sou único e eterno,
exceto pela minha singularidade, comum,
a que me apego.

Eterno, etéreo e absoluto;
nada que me pluralize,
nenhum rastro de luto.
Ademais, nenhum "ismo" a mais no meu ocultismo.
Só o absurdo.

Fim de feira



Domingo, fim de feira

A rua ao término da feira, leva um tempo para os nossos olhos se adaptarem à sua normalidade. Depois de varrida a última folha, até a limpeza parece estranha; falta naturalidade _ originalidade _, mas o cheiro recendente nos leva os sentidos a doce exuberância do pomar de lembranças.

Logo a paisagem vai se renovando: A última barraca desmontada, crianças, brincadeiras, jovens, vozes, gritos, meninas, moças, senhoras, gestantes, homens, carros, postes, fios, pássaros, pombos,... Pombos? Pombos já não são pássaros, são bichos comendo detritos de bichos e cagando infecção! Cães...
e os telhados que espiavam o movimento por sobre a lona das barracas exibem novamente suas estruturas, a área, o jardim;
E a morena bonita cantarolando, arrumando os cabelos, vê
 O gato na janela assobiando Jobim.

É bom o cheiro de feijão refogado.
A imagem na tv é a mesma da semana passada
A linguagem do outro século, exacerbadamente vulgar;
_ Perdão! Podem buzinar._
A linguagem é a de sempre: Vômito, podridão...
“Quem não se comunica se se trumbica”.
Que saudade da comunicação!


É domingo, os homens jogam e bebem.
Os bares estão cheios.
Quanto será que custa uma cerveja?
Rabo de galo dá dor de cabeça; e uma ressaca!
Pensar em conhaque me causa repulsa, e arrepio, dor de cabeça...
Pior que cachaça.

Puxa! Como tem mulheres alcoólatras e fumantes hoje em dia!
O preço do abacaxi tá um absurdo! É de morte!
E o pepino então!...
E o sexo?
E o coquetel? Mas os postos dão camisinha!
É melhor ser autólatra que alcoólatra?

Tudo custa.

Tudo embriaga. Tudo é vício, tudo vicia!
Até a rua
A noite
A poesia
A lua
A sarjeta
O abraço, o beijo
Os seios, o amasso, a... também vicia.
A dor
O remédio.
A solidão;...a procura.
Há cura!

Falo pelos cotovelos, sou um pentelho.
Nunca serei um busto.
Espelho.

Nunca serei um busto
Um monumento
Onde os pombos trepem
E se lubrifiquem se amando...
Cagando os detritos dos dejetos
Dos projetos dos homens: Nós, de salto alto,
O movimento,
Vivos, vistos do alto.

Nunca serei história
Também história nenhuma fiz nem farei.
Não sou história
Não nasci pra Colombo.
Não canto
Não conto
Não sou conto
Nem santo
Talvez pombo.

Nesse tempo, _ Tempo das águas _
Logo após a estiagem da tão esperada primeira chuva, o sol, lembra-me um velho e nossa primavera. Eu já o conheci cheio de rugas e grisalho, _ juro! _ a dançar entre as covas, semeando grãos, com amor e fé, e espalhando com os pés a terra para cobrir a esperança do futuro;
O suor escorrendo em seu rosto como água no leito de um sinuoso rio.
E seus cabelos pretos, entremeados de fios bancos sob o chapéu de feltro, reluzindo como orvalhos à sombra tocados pelos raios do sol da manhã. Ao meio dia, ave Maria!...
Água fresca e um assobio.

Sabedoria e humildade andavam de braços dados rezando, cantando e dançando, e compondo os novos passos para os jovens, e ainda imaturos, semeadores de esperanças.
Há vidas, há momentos, e há fatos que compõem nossas lembranças que são mais que perfeita poesia. É uma oração; é profecia. Um diálogo direto com Deus numa linguagem de semelhança de sentidos.

Tudo que Deus criou tem sua utilidade. E ser útil é o fundamento de toda criatura, portanto tornar-se útil, sentir-se útil é fundamental para se sentir ser vivo.

Não compreendemos os insetos, a razão de suas existências, mas eles cumprem seus compromissos para com a vida. Como as formigas, as abelhas, ainda são espelhos para o homem.
Tudo que Deus criou tem sua serventia, inclusive o homem. E é preciso viver dentro do limite da sua precisão. Nem mais nem menos.

Ele, meu velho, dizia coisas assim, enquanto dançava esmagando os torrões úmidos, esparramando a terra sobre as sementes escolhidas para plantio.
A fé sempre florescia primeira mesmo no estio.

Dele não se fez notícias
Não se fez nenhuma ode
Nenhuma epopeia.
Ele apenas cumpriu seu destino,
Nem mais nem menos. Sempre fora ele mesmo, o que era.
Fez-se o bastante no extremo da necessidade.

Mas eu tenho dele um retrato,
O seu autorretrato,
E como pano de fundo eu vejo o céu
Estampado mulher ostentando-o nas nuvens, sua esposa;
Minha mãe.

Domingo, fim de feira, bom vadiar assim, pensando, sem eira nem beira.

23 de set. de 2012

Marisa Monte e paz celestial




E de repente Marisa Monte.
Larguei a filosofia e abri as janelas.
Os livros não guardam sons cósmicos; as palavras, elas não ferem e acariciam suave e doce tal “Sintomas de Saudade”.

Ave, Marisa!... o céu se abria.

E de repente Deus me disse: _ Pare! Vá ser feliz.
Fechei os olhos e adormeci.
Depois.

22 de set. de 2012

O roteiro


No centro velho, outrora pleno de glamour, acariciei meus olhos com arquitetura eclética e belos mosaicos. Abracei minha querida São Paulo do Ipiranga à Luz. Viajei pela República...

Ouvi vozes estranhas e gritos por independência: Os pombos, os cães, a polícia, o homem, o bicho...
Aí meus olhos se fixaram despropositadamente no bico dos sapados. Não sei por quê.

A cada passo chutava um fato, a cada fato um político e meus votos.
A cracolândia era o retrato do que eu ajudara a construir; ou destruir.
Senti calafrios.
Faltou-me uma bebida; café, uma graça, e uma bandeira.

Sobre a vida


O novo chocolate, à primeira mordida, tem um gosto amargo...
_ chega ser frustrante.
Depois que o degustamos ­_ humm!
É um verdadeiro encanto.

Na vida precisamos ter paciência.

A vitória exige paciência
O sucesso exige paciência
Um projeto exige paciência
A felicidade tem suas origens na paciência.
A própria paciência exige confiança e paciência, porquanto,
A paciência é um pacote dinâmico de artifícios com vários atributos.

O gosto final da nossa peleja, vida a fora, também depende do que extraímos desse pacote dinâmico, passo a passo.
Porque o destino se forma laço a laço.
Pra onde quer que se vá vai-se passo a passo, não importa o caminho.

O homem andava pela rua, sob a garoa paulistana, quando um carro do ano, blindado e vidro fumê, passa numa poça d’água próxima à calçada e lança aquela onda nos pedestres.  O transeunte gesticula, xinga, solta palavrões, e segue; mas já envergonhado e arrependido pelo seu comportamento.

Minutos depois entra na farmácia do shopping e alguém lança sobre ele um olhar fulminante. O homem estremece. Amor à primeira vista? Ele é tímido, mas é um tímido que tem atitude.

Durante o café os dois falam de cinema, música e literatura, o que os leva por ideias excêntricas a discutir as estranhezas de certos dias. Por fim ele fala do banho que levara na calçada. Ela, diante tal narrativa se identifica e se revela provável réu confesso. E eles riem muito e ao final do encontro descobrem que ambos têm "pegada"...

Passado certo tempo, os amigos em comum, que tanto admiram o relacionamento invejável daquela família de respeito e romantismo, pergunta-lhes qual é o segredo e como se conheceram: 
“Paciência; paciência e bom humor”, eles dizem.

21 de set. de 2012

Alguém

Alguém
Pela rua, intrépido e calmo, ou não _
Não importa; passa
Quem passa, passa, vai
Ou volta.
E há um vulto na esquina
Ereto, atento.
Mas quem tem fé é cristão, é bento.

A música _ violão e viola _ o chapéu!...
No céu estrelas, óvni, beatas, véu...
A lua indiscreta,
Quieta!

Chora
 Aurora no bar,
Um alento.
Há um vulto na esquina
Ereto, atento.
Cheiro de frutas, fim de feira.
Uma a uma as portas se movimentam
As lojas silenciam-se,
Alaridos distantes
Transito lento;
É sexta.

Há um vulto na esquina
Ereto, atento.
O poste inerte, ao pensamento indiferente,
O que ascende a luz?
Há brisa, há vento...

Passam-se horas, um minuto, dir-se-ia, eterno,
O filósofo invejaria tal cruz
_ homem de terno, lerdo!... 

Tudo seduz, _ sol de inverno.
O verão tórrido daquele universo
O poeta o devoraria, verso a verso.

Há um vulto na esquina, alheio,
Ereto, atento. Feio!
Homem?
Ladrão, assassino, turista, pedófilo, ET, alma penada? Nada! nada! nada!... nada.

Digo “bom dia!” disfarço e passo.
Se há é invisível o abraço
Apenas o laço, o salto do assalto.

Ele move a cabeça e ri, discretamente.
Veja só, coitado, também é gente.


Apátrida


Sou católico apostólico, não sei por que, romano;
Carrego o peso do pecado imaginário
Por vezes feito, praticado,
Outras, pensado, desumano.

Na verdade sou mineiro transitabirano ­_
Exímio imitante de Drummond...
Despatriado, expatriado,
Entre os montes, cabisbaixo, calado,
Falando com o mundo
Olhando pra todo o lado...
Gritando, chorando, um silêncio alado;

Sem pai e sem mãe, ninguém!
Gato-do-mato,
Alguém que se orgulhe dos versos que faço...
E  sufoquem ou sufocados, pois,
O mundo não pode respirar.

O pensamento oxigena o cérebro
“Definitivamente o homem não deve pensar”.

Viver, apenas, basta. Aquém de tudo, sem prestígio,
Gato-do-mato...
Sorte incasto.