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14 de out. de 2012

Estranho é ser diferente


         Uma pessoa estranha é uma pessoa comum. É aquela pessoa comum, mas que apresenta alguma diferência que desperta preconceito noutras pessoas comuns, inclusive estranhas. Existem pessoas estranhas e esquisitas, e existem pessoas tão esquisitas e estranhas que nem existem, pertencem ao imaginário. Identifica-se ao estranho e esquisito entre as pessoas comuns principalmente pela sua aparência, pois, ele apresenta, evidentemente, uma mistura de estranhezas: comporta-se de maneira diferente, é feio, desajeitado, geralmente é inibido ou se faz de muito extrovertido e engraçado. Convenhamos, uma pessoa estranha e esquisita é mais completa do que uma pessoa comum. As esquisitas e estranhas oriundas do imaginário são aquelas que logo que as avistamos formamos um breve conceito sobre elas e as alojamos no porão do nosso castelo assombrado. Lá é o quarto de hóspede daquilo que julgamos esquisito. Muitas vezes, com o passar do tempo, ao fazer uma faxina encontramos pessoas e coisas estranhas e esquisitas que já não são mais esquisitas, muito menos estranhas, e sim, extremamente queridas e úteis. Aí se tornam belas, estimadas e geniais. Mas o porão do castelo nunca fica vazio.
Raimundo era um hóspede frequente desses castelos assombrados. Vivia nos porões habitados por espectros e coisas exóticas. Circulava sem medo. Procurava sempre se adaptar o mais rápido possível para sentir-se confortado. Então ia com cuidado e gentilezas decorando o ambiente a seu gosto. _ Quando não se sabe o tempo da estadia, melhor é agir como se se alojasse em moradia permanente, até que seja convidado a transferir-se para outro aposento mais sociável _ assim pensava ele sobre as novas amizades. Raimundo é sim um estranho; estranho e esquisito, não necessariamente nessa ordem. Ele é tímido, não consegue sorrir. Fica tempo demais olhando para o nada e qualquer insignificância o detém. Ele olha para muita coisa de importante e não vê nada e no nada se prende a valores ocultos. As evidências lhe causa estranheza. Ele curte música clássica, gosta de Chico B. e fala sozinho. Se tivesse o dom para certas ciências e invenções certamente se tornaria um homem de conquistas. Mas ele não o tinha. Ele tinha o dom da esquisitice e as ironias da vida colaboram para que no campo das excentricidades se estabelecesse. Sim, evoluíra sim, graças às adversidades do campo da hipocrisia. Ele é realmente esquisito; ele fala sozinho!
Ele ouvia Chico Buarque enquanto descia a COHAB, não ouviu que alguém o chamava. Vez por outra parava e anotava alguma coisa. Não olhava para os lados e quando o fazia olhava pra lugar nenhum, não era pra ver nada; olhava pra dentro de si buscando um pensamento arisco que lhe escapara.
_ Ei! Raimundo, espera! _ uma voz penetrou-lhe ao término da música “Iolanda”. Parou e olhou para os lados, ninguém conhecido. Prosseguiu.
Conhecidos o achava medíocre, orgulhoso e exibido. Estranhos o achava estranho. Mas quando alguém o atraia para a realidade ele era “todo ouvidos”, se sentia feliz e até orgulhoso e importante, mesmo que fosse atraído apenas para uma informação ou um bom dia. Percebe-se que era fácil cometer enganos e que era fácil enganá-lo.
_ Oi, Raimundo, pera ai! _ a voz agora mais próxima o desligara da introdução de “Minha História” que Chico entoara.
Ao olhar pra traz, na direção do portão de um prédio viu a mulher ofegante. Era Flávia, uma amiga, uma antiga paquera, uma pessoa especial.
_ Oi, Flávia, desculpe _ justiçou – eu tava com fone de ouvido.
_ Tudo bem, eu devia saber _ sorriu expressiva _ você vive com isso no ouvido! O que tá ouvindo, axé ou pop? _ e olhando-o de cima a baixo _ Aonde vai assim tão bonito, com tanta pressa?
_ Chico Buarque de Holanda _ e colocando o fone no ouvido dela pontuou: _, o melhor da MPB; e eu to indo matar alguém para que alguém enfim viva. _ Mas ela não prestou atenção na última informação.
_ Melhor que Caetano?
_ Melhor é melhor ou tanto quanto _ riu _, depende do momento.
_ Não entendi. _ pensou um pouco e desviou para o assunto que a fizera descer correndo as escadas do prédio. _ Quero que me empreste um livro de filosofia. Trabalho de escola, manja? Eu sei que você tem. Um dia você tava lendo e falou dele com tanto entusiasmo que eu nunca esqueci. Era uma história meio infantil, parece.
_ Tá bom, qual é o livro?
_ Não sei.
_ Como assim, não sabe _ riu novamente _; de repende o livro é da biblioteca municipal.
_ Ai que bom! _ exclamou mordendo o lábio inferior e balançando a cabeça negativamente _ ganhei o dia. Fiz você sorrir duas vezes.
_ Bom, não vem ao caso, deixa. _ Desconcertado, abriu a mochila e pegou a caneta _ anota meu telefone e me liga de tardezinha. Quando eu voltar eu...
_ Olha pra mim _ moveu o rosto dele para que a encarasse _ Não fica sem jeito; eu sei que você é casado; eu sei que você não me quer... tudo bem, respeito isso. Mas você não sente nada por mim? Não me deseja, não pensa em mim?...
_ É Prometeu e Epimeteu _ deixou escapar um suspiro; voltou-se para mochila novamente, fechou o zíper já seguindo em frente _, vou trazê-lo pra você.
_ É o que tem caixa de pandora? _ ela gritou.
_ Exato! _ ele se virou e confundiu um pouco mais dizendo: _ Quando estou com Chico, prefiro Chico; quando estou Caetano, prefiro Caetano.
_ Ele me ama! Ele me ama! _ ela dizia, e atravessou o portão mordendo os lábios e gritando _ Ele me ama!
E quando subia as escadas parou estarrecida e dizendo: _ Meu Deus do céu! Ele vai matar quem?
Ela voltou correndo para a rua, mas ele já havia desaparecido.

Júlia vivera história parecida a um conto de fadas. Seu sapo transformara em príncipe logo no primeiro beijo. Era da plebe, mas era de caráter notável. Mas a menina fora criada como uma princesa e educada na ilusão de um dia partir numa linda carruagem ou entrelaçando-se na cintura de um grande amor que a levasse à torre de um castelo cavalgando um cavalo branco; portanto não soube reconhecer o bom companheiro que sempre esteve ao seu lado no cenário da sua realidade urbana. Abandonara-o e entregou-se aos sonhos. Mas a efêmera aventura que vivera nem chegou a conhecer a felicidade, só descobrira que ela, a felicidade, estivera antes contigo sem os brilhos cintilantes, porém vivazmente ativa. O príncipe nem era sequer gentil. Do conto de fadas herdara um belo garoto, pequeno príncipe, que fazia a alegria da sua vida. Arrependera-se e quis voltar, mas o sapo, frágil mutante, não suporta a mais de uma metamorfose, o a mor verdadeiro é o seu último estágio.

Trecho do livro "Um minuto, por favor".

8 de out. de 2012

Dia Oficial da Democracia


Domingo, 7 de outubro 2012, céu claro.
Desponta com o sol a expectativa;
É dia de exercer a cidadania
E escolher por votos as diretivas.

O povo vai às urnas eleger candidatos ou partido
Quem serão funcionários, representantes e amigos
Em prol das comunidades e municípios.

A todos é assegurado o direito democrático desse ofício:
Candidatar-se, escolher e fiscalizar.
E em caso de crime contra os bons princípios
Cabe ao povo, na justiça, o ato de impugnar.

Dos erros democráticos aos quais estamos propensos:
Abuso da liberdade, má fé, falta de bom senso;
Por vezes ficamos frágeis, confusos, revoltosos e tensos.

E entre o certo, o errado, e o que eu penso
Vem o ilícito, o desumano, o imoral...
Por isso é importante ficar em alerta, em exercício, atento ao sistema
Pois a própria história nos ensina, julga e condena
Réus, cúmplice, e algozes de duras penas.

Hoje, a cidade, enfim, acordou silenciosa.
Sem jingles, sem fogos, sem gritos, só contenda;
Mas as ruas estão cobertas de panfletos _ um tapete.
Que ironia! Entre tanta imundice de campanha de vereadores e prefeitos
Vejo caras inúmeras e o slogan do meu partido verde.

O povo escorrega no tapete da cidadania
Subindo e descendo a ladeiras da liberdade
Mal sabe o eleitor que hoje na sua cidade
Ampliam-se os degraus da nossa democracia.

Brasil, dia de eleição, um grande dia!





1 de out. de 2012

Anjos


Hoje, caminham anjos comigo.
Cantam hinos
Cantam risos
Cantam a vida.

Também sou criança, velha,
 E a inocência sempre me enfeitiça.

Minha infância é meu abrigo
Onde ainda brinco com o futuro
Como se ele já não estivesse comigo,
Ou por mim já não tivesse passado.
E quando vejo o sentido da vida no riso do Rapha
E nos olhos da Raissa!...
Melhor senti-lo calados.

Ah, Raquel; Também te vejo, a criança que fostes. Linda!...