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20 de nov. de 2012

Marketing pessoal

Certos nomes de pessoa são tão simples que não precisam de um sobrenome. São perfeitos por ser simples, ninguém questiona sua origem. Como os frutos dispensam o nome científico: como a maçã, pimenta, tomate, jatobá; Raimundo é assim, apenas Raimundo. Não importa se é Nonato, se da Silva ou 

Kubitschek, sabe-se que é Raimundo brasileiro e isso é tudo. Já se sabe o seu cheiro, cor e sabor. É ninguém.





Isso fazia todo sentido naquele momento. O que diferencia um Raimundo brasileiro do outro é a aparência e o saldo bancário. Ao olhar para certas pessoas comuns nunca se espera uma atitude ou ideia brilhante, um gesto que mereça atenção por acrescentar algo em nossas vidas. Mas se ficar famoso! Quando acontece...
“Peidô”, virou manchete.

Numa terra de Raimundos e Marias, é comum ignorar pensamentos e sugestões julgando-os apenas pela aparência dessas figuras pensantes. Até mesmo uma capacidade comprovada é ignorada. Ignora-lhes também a sensibilidade. Faz-se descaso dos sentimentos que em outros, de características idênticas, exceto a origem e aparência, seriam razões de veneração. Isso confunde o indivíduo quando o destino lhe reserva inesperada boa sorte. O mesmo passa a ser amado e apontado como exemplo de perfeição quando entra para o clube da elite, o hall da fama. O próprio Raimundo então, se não tiver convicção de seus valores e o valor de suas origens, fé, logo se esqueceria de quem é e portar-se-ia como qualquer excentricidade humana, antagônico a si mesmo. Ah, um gringo bereberé. _ Que nome expressivo!
O marketing pessoal é algo bastante complexo, difícil de ser trabalhado. Sua necessidade é incontestável, os resultados efetivos são notórios; porém, as consequências no final às vezes abstrusas. A autopromoção é muito importante para a nossa credibilidade profissional e, sem dúvida, pode ser uma excelente ajuda quando procuramos emprego ou qualquer tipo de relacionamento pela vida afora. Mas isso exige cuidado.
O processo de procurar emprego é parecido com o de divulgação de um produto, deve seguir os mesmos passos de uma campanha de marketing para uma empresa, sendo que o produto em questão, que se está tentando vender, é a sua mão de obra, suas habilidades; e qualquer produto, por melhor que o seja, não fará sucesso se não for convenientemente divulgado aos potenciais clientes. Cada um de nós é uma empresa, é o empreendedor e também o produto. Temos em nós mesmos os três pilares fundamentais de sustentação: a missão, a visão e os valores.
Um bom marketing pessoal nos garante vantagem sobre os outros candidatos num processo seletivo e nos torna referência. Mas isso não é tudo. O homem pode ser medido e avaliado por sua capacidade de se autopromover? Sim, dependendo do olhar de quem o fiscaliza. Se aquele que o investiga procura apenas o que a propaganda dispõe em destaque...
Tem gente que só enxerga o óbvio; sendo assim, não importa se o que se tem é apenas a embalagem do homem. Mas e quanto a você que não é apenas uma embalagem oca? Você que tem seus princípios, defende suas crenças, seu passado, suas dúvidas? Você tem recheios. De repente esses recheios ofuscados pelo brilho de sua embalagem é a sua essência de vida. Há aqueles que vendem a alma por uma posição; e há aqueles que morrem, mas não vendem a alma em nenhuma ocasião. _ Eis uma razão para análise.
É importante saber para onde deseja projetar seu marketing pessoal. É fundamental escolher o alvo para o qual deseja atrair, imprimir seu slogan e fixar seu jingle. Escolher, portanto, o tipo de empresa para lhes oferecer-nos, nós produtos. E sempre ter em mente que para a empresa, nós funcionários, somos apenas um número. Um produto identificado.

14 de out. de 2012

Estranho é ser diferente


         Uma pessoa estranha é uma pessoa comum. É aquela pessoa comum, mas que apresenta alguma diferência que desperta preconceito noutras pessoas comuns, inclusive estranhas. Existem pessoas estranhas e esquisitas, e existem pessoas tão esquisitas e estranhas que nem existem, pertencem ao imaginário. Identifica-se ao estranho e esquisito entre as pessoas comuns principalmente pela sua aparência, pois, ele apresenta, evidentemente, uma mistura de estranhezas: comporta-se de maneira diferente, é feio, desajeitado, geralmente é inibido ou se faz de muito extrovertido e engraçado. Convenhamos, uma pessoa estranha e esquisita é mais completa do que uma pessoa comum. As esquisitas e estranhas oriundas do imaginário são aquelas que logo que as avistamos formamos um breve conceito sobre elas e as alojamos no porão do nosso castelo assombrado. Lá é o quarto de hóspede daquilo que julgamos esquisito. Muitas vezes, com o passar do tempo, ao fazer uma faxina encontramos pessoas e coisas estranhas e esquisitas que já não são mais esquisitas, muito menos estranhas, e sim, extremamente queridas e úteis. Aí se tornam belas, estimadas e geniais. Mas o porão do castelo nunca fica vazio.
Raimundo era um hóspede frequente desses castelos assombrados. Vivia nos porões habitados por espectros e coisas exóticas. Circulava sem medo. Procurava sempre se adaptar o mais rápido possível para sentir-se confortado. Então ia com cuidado e gentilezas decorando o ambiente a seu gosto. _ Quando não se sabe o tempo da estadia, melhor é agir como se se alojasse em moradia permanente, até que seja convidado a transferir-se para outro aposento mais sociável _ assim pensava ele sobre as novas amizades. Raimundo é sim um estranho; estranho e esquisito, não necessariamente nessa ordem. Ele é tímido, não consegue sorrir. Fica tempo demais olhando para o nada e qualquer insignificância o detém. Ele olha para muita coisa de importante e não vê nada e no nada se prende a valores ocultos. As evidências lhe causa estranheza. Ele curte música clássica, gosta de Chico B. e fala sozinho. Se tivesse o dom para certas ciências e invenções certamente se tornaria um homem de conquistas. Mas ele não o tinha. Ele tinha o dom da esquisitice e as ironias da vida colaboram para que no campo das excentricidades se estabelecesse. Sim, evoluíra sim, graças às adversidades do campo da hipocrisia. Ele é realmente esquisito; ele fala sozinho!
Ele ouvia Chico Buarque enquanto descia a COHAB, não ouviu que alguém o chamava. Vez por outra parava e anotava alguma coisa. Não olhava para os lados e quando o fazia olhava pra lugar nenhum, não era pra ver nada; olhava pra dentro de si buscando um pensamento arisco que lhe escapara.
_ Ei! Raimundo, espera! _ uma voz penetrou-lhe ao término da música “Iolanda”. Parou e olhou para os lados, ninguém conhecido. Prosseguiu.
Conhecidos o achava medíocre, orgulhoso e exibido. Estranhos o achava estranho. Mas quando alguém o atraia para a realidade ele era “todo ouvidos”, se sentia feliz e até orgulhoso e importante, mesmo que fosse atraído apenas para uma informação ou um bom dia. Percebe-se que era fácil cometer enganos e que era fácil enganá-lo.
_ Oi, Raimundo, pera ai! _ a voz agora mais próxima o desligara da introdução de “Minha História” que Chico entoara.
Ao olhar pra traz, na direção do portão de um prédio viu a mulher ofegante. Era Flávia, uma amiga, uma antiga paquera, uma pessoa especial.
_ Oi, Flávia, desculpe _ justiçou – eu tava com fone de ouvido.
_ Tudo bem, eu devia saber _ sorriu expressiva _ você vive com isso no ouvido! O que tá ouvindo, axé ou pop? _ e olhando-o de cima a baixo _ Aonde vai assim tão bonito, com tanta pressa?
_ Chico Buarque de Holanda _ e colocando o fone no ouvido dela pontuou: _, o melhor da MPB; e eu to indo matar alguém para que alguém enfim viva. _ Mas ela não prestou atenção na última informação.
_ Melhor que Caetano?
_ Melhor é melhor ou tanto quanto _ riu _, depende do momento.
_ Não entendi. _ pensou um pouco e desviou para o assunto que a fizera descer correndo as escadas do prédio. _ Quero que me empreste um livro de filosofia. Trabalho de escola, manja? Eu sei que você tem. Um dia você tava lendo e falou dele com tanto entusiasmo que eu nunca esqueci. Era uma história meio infantil, parece.
_ Tá bom, qual é o livro?
_ Não sei.
_ Como assim, não sabe _ riu novamente _; de repende o livro é da biblioteca municipal.
_ Ai que bom! _ exclamou mordendo o lábio inferior e balançando a cabeça negativamente _ ganhei o dia. Fiz você sorrir duas vezes.
_ Bom, não vem ao caso, deixa. _ Desconcertado, abriu a mochila e pegou a caneta _ anota meu telefone e me liga de tardezinha. Quando eu voltar eu...
_ Olha pra mim _ moveu o rosto dele para que a encarasse _ Não fica sem jeito; eu sei que você é casado; eu sei que você não me quer... tudo bem, respeito isso. Mas você não sente nada por mim? Não me deseja, não pensa em mim?...
_ É Prometeu e Epimeteu _ deixou escapar um suspiro; voltou-se para mochila novamente, fechou o zíper já seguindo em frente _, vou trazê-lo pra você.
_ É o que tem caixa de pandora? _ ela gritou.
_ Exato! _ ele se virou e confundiu um pouco mais dizendo: _ Quando estou com Chico, prefiro Chico; quando estou Caetano, prefiro Caetano.
_ Ele me ama! Ele me ama! _ ela dizia, e atravessou o portão mordendo os lábios e gritando _ Ele me ama!
E quando subia as escadas parou estarrecida e dizendo: _ Meu Deus do céu! Ele vai matar quem?
Ela voltou correndo para a rua, mas ele já havia desaparecido.

Júlia vivera história parecida a um conto de fadas. Seu sapo transformara em príncipe logo no primeiro beijo. Era da plebe, mas era de caráter notável. Mas a menina fora criada como uma princesa e educada na ilusão de um dia partir numa linda carruagem ou entrelaçando-se na cintura de um grande amor que a levasse à torre de um castelo cavalgando um cavalo branco; portanto não soube reconhecer o bom companheiro que sempre esteve ao seu lado no cenário da sua realidade urbana. Abandonara-o e entregou-se aos sonhos. Mas a efêmera aventura que vivera nem chegou a conhecer a felicidade, só descobrira que ela, a felicidade, estivera antes contigo sem os brilhos cintilantes, porém vivazmente ativa. O príncipe nem era sequer gentil. Do conto de fadas herdara um belo garoto, pequeno príncipe, que fazia a alegria da sua vida. Arrependera-se e quis voltar, mas o sapo, frágil mutante, não suporta a mais de uma metamorfose, o a mor verdadeiro é o seu último estágio.

Trecho do livro "Um minuto, por favor".

8 de out. de 2012

Dia Oficial da Democracia


Domingo, 7 de outubro 2012, céu claro.
Desponta com o sol a expectativa;
É dia de exercer a cidadania
E escolher por votos as diretivas.

O povo vai às urnas eleger candidatos ou partido
Quem serão funcionários, representantes e amigos
Em prol das comunidades e municípios.

A todos é assegurado o direito democrático desse ofício:
Candidatar-se, escolher e fiscalizar.
E em caso de crime contra os bons princípios
Cabe ao povo, na justiça, o ato de impugnar.

Dos erros democráticos aos quais estamos propensos:
Abuso da liberdade, má fé, falta de bom senso;
Por vezes ficamos frágeis, confusos, revoltosos e tensos.

E entre o certo, o errado, e o que eu penso
Vem o ilícito, o desumano, o imoral...
Por isso é importante ficar em alerta, em exercício, atento ao sistema
Pois a própria história nos ensina, julga e condena
Réus, cúmplice, e algozes de duras penas.

Hoje, a cidade, enfim, acordou silenciosa.
Sem jingles, sem fogos, sem gritos, só contenda;
Mas as ruas estão cobertas de panfletos _ um tapete.
Que ironia! Entre tanta imundice de campanha de vereadores e prefeitos
Vejo caras inúmeras e o slogan do meu partido verde.

O povo escorrega no tapete da cidadania
Subindo e descendo a ladeiras da liberdade
Mal sabe o eleitor que hoje na sua cidade
Ampliam-se os degraus da nossa democracia.

Brasil, dia de eleição, um grande dia!





1 de out. de 2012

Anjos


Hoje, caminham anjos comigo.
Cantam hinos
Cantam risos
Cantam a vida.

Também sou criança, velha,
 E a inocência sempre me enfeitiça.

Minha infância é meu abrigo
Onde ainda brinco com o futuro
Como se ele já não estivesse comigo,
Ou por mim já não tivesse passado.
E quando vejo o sentido da vida no riso do Rapha
E nos olhos da Raissa!...
Melhor senti-lo calados.

Ah, Raquel; Também te vejo, a criança que fostes. Linda!...

29 de set. de 2012

Adeus Hebe

















Diga a Deus Hebe:
O tempo é primavera
Estação das flores
E se dar como penhores da mais bela os encantos,
É desencanto
Pra quem fica em pranto
E desaprendeu a chorar.

Era, acaso, esse o propósito
Ceifar-nos a flor e as sementes
Sem dar-nos nesse entrementes
Outro espécime de virtude?

Peça-O que ao menos nos ajude
Sorver da vida o cálice amargo
Sem as rimas do teu nome
E a melodia do beijo sagrado.

 Diga a Deus Hebe:
"Muitíssimo obrigado!"

26 de set. de 2012

Atitude do amor

O amor rói,
Sem nenhum pudor,
Todo pudor que o homem constrói;
Depois,
Destrói e reconstrói,
Com todo pudor,
O amor.

25 de set. de 2012

Apelo

Meu corpo pedia para entender-se com teu corpo
Teu corpo correspondia

Nós os ignoramos
Nós nos omitimos.

Para não pecar, pecamos
Para não viver, fugimos.

Contudo,
Ainda há tempo
Ainda existimos.

Todavia, morremos;
Embora ainda nos sentimos.

24 de set. de 2012

Agora eu sei


Bom, agora eu sei
porque tive sobre mim os afagos das mãos da esperança
e a luz do sol clareando os caminhos.
Agora sei
porque fui levado pela inocência a apanhar flores entre espinhos...

Porque vivi os dias mais belos na companhia de uma amiga maravilhosa
_ uma mulher linda _ que tem generosidade nas atitudes e no olhar.
Eu vivia, embora não soubesse, junto à felicidade
sob olhar luminoso de um sol cálido
que tem o sorriso como um frescor de brisa.

Agora sei o que é o amor.
E conheço do amor todos os sentidos
embora não tenha dele o fruto colhido
tampouco tenha do seu perfume usufruído
e do sabor exótico provado, divinal...
Contudo, exultou-me a vida conhecê-lo.
E ainda meu olhar e meu coração jubilam-se ao vê-lo.

Fruto temporã
que desde a infância cobiço e minhas mãos não alcançam
que tão cedo amadureceu e tão tarde se me apresentou sua forma, sua cor, seu perfume...
e ocultou-me cruelmente o conhecer na amplitude sua beleza...
e o conceber a concepção aos sentidos toda percepção do seu sabor.

Agora crescido, engenheiro estrategista, ainda cobiço
o fruto da árvore amor;
e ainda tão debilitado e ingênuo sou
quanto a antiga criança
o velho homem, criança que errou.

Agora sei que o amor é a inocência que doma o homem;
é a caça que aprisiona o caçador.

Agora sei:
o sol é mais perfeito que o arco-íris
porque é magnífico e constante.

Vento na Pereira

Ao meio dia o vento sacudiu a árvore.
A árvore estremeceu ao ver
Oscilar entre as folhas arrancadas pelo tempo
Um rebento que não era seu.

O homem sempre hesita
_ por mais maduro seja _
Na impossibilidade de conter o vento,
Que dirá o tempo! que dita a sua peleja, que
Com suas mãos pesadas ajunta e colhe,
Estolhos expostos ao tempo
E consome a sua beleza.

Há meio dia; e vento sacode a árvore
A árvore sacode o homem
O homem sacode os tempos
O tempo a tudo revira
E colore novos rebentos.

Diz que diz que abstrato


Nada é eterno
eterno e absoluto...
Exceto o homem na sua singularidade;
por isso a nada me apego,
a não ser que me fortaleça meu ego
e aumente meu "abstratismo",
a tudo renego, porque sou homem,
sou único e eterno,
exceto pela minha singularidade, comum,
a que me apego.

Eterno, etéreo e absoluto;
nada que me pluralize,
nenhum rastro de luto.
Ademais, nenhum "ismo" a mais no meu ocultismo.
Só o absurdo.

Fim de feira



Domingo, fim de feira

A rua ao término da feira, leva um tempo para os nossos olhos se adaptarem à sua normalidade. Depois de varrida a última folha, até a limpeza parece estranha; falta naturalidade _ originalidade _, mas o cheiro recendente nos leva os sentidos a doce exuberância do pomar de lembranças.

Logo a paisagem vai se renovando: A última barraca desmontada, crianças, brincadeiras, jovens, vozes, gritos, meninas, moças, senhoras, gestantes, homens, carros, postes, fios, pássaros, pombos,... Pombos? Pombos já não são pássaros, são bichos comendo detritos de bichos e cagando infecção! Cães...
e os telhados que espiavam o movimento por sobre a lona das barracas exibem novamente suas estruturas, a área, o jardim;
E a morena bonita cantarolando, arrumando os cabelos, vê
 O gato na janela assobiando Jobim.

É bom o cheiro de feijão refogado.
A imagem na tv é a mesma da semana passada
A linguagem do outro século, exacerbadamente vulgar;
_ Perdão! Podem buzinar._
A linguagem é a de sempre: Vômito, podridão...
“Quem não se comunica se se trumbica”.
Que saudade da comunicação!


É domingo, os homens jogam e bebem.
Os bares estão cheios.
Quanto será que custa uma cerveja?
Rabo de galo dá dor de cabeça; e uma ressaca!
Pensar em conhaque me causa repulsa, e arrepio, dor de cabeça...
Pior que cachaça.

Puxa! Como tem mulheres alcoólatras e fumantes hoje em dia!
O preço do abacaxi tá um absurdo! É de morte!
E o pepino então!...
E o sexo?
E o coquetel? Mas os postos dão camisinha!
É melhor ser autólatra que alcoólatra?

Tudo custa.

Tudo embriaga. Tudo é vício, tudo vicia!
Até a rua
A noite
A poesia
A lua
A sarjeta
O abraço, o beijo
Os seios, o amasso, a... também vicia.
A dor
O remédio.
A solidão;...a procura.
Há cura!

Falo pelos cotovelos, sou um pentelho.
Nunca serei um busto.
Espelho.

Nunca serei um busto
Um monumento
Onde os pombos trepem
E se lubrifiquem se amando...
Cagando os detritos dos dejetos
Dos projetos dos homens: Nós, de salto alto,
O movimento,
Vivos, vistos do alto.

Nunca serei história
Também história nenhuma fiz nem farei.
Não sou história
Não nasci pra Colombo.
Não canto
Não conto
Não sou conto
Nem santo
Talvez pombo.

Nesse tempo, _ Tempo das águas _
Logo após a estiagem da tão esperada primeira chuva, o sol, lembra-me um velho e nossa primavera. Eu já o conheci cheio de rugas e grisalho, _ juro! _ a dançar entre as covas, semeando grãos, com amor e fé, e espalhando com os pés a terra para cobrir a esperança do futuro;
O suor escorrendo em seu rosto como água no leito de um sinuoso rio.
E seus cabelos pretos, entremeados de fios bancos sob o chapéu de feltro, reluzindo como orvalhos à sombra tocados pelos raios do sol da manhã. Ao meio dia, ave Maria!...
Água fresca e um assobio.

Sabedoria e humildade andavam de braços dados rezando, cantando e dançando, e compondo os novos passos para os jovens, e ainda imaturos, semeadores de esperanças.
Há vidas, há momentos, e há fatos que compõem nossas lembranças que são mais que perfeita poesia. É uma oração; é profecia. Um diálogo direto com Deus numa linguagem de semelhança de sentidos.

Tudo que Deus criou tem sua utilidade. E ser útil é o fundamento de toda criatura, portanto tornar-se útil, sentir-se útil é fundamental para se sentir ser vivo.

Não compreendemos os insetos, a razão de suas existências, mas eles cumprem seus compromissos para com a vida. Como as formigas, as abelhas, ainda são espelhos para o homem.
Tudo que Deus criou tem sua serventia, inclusive o homem. E é preciso viver dentro do limite da sua precisão. Nem mais nem menos.

Ele, meu velho, dizia coisas assim, enquanto dançava esmagando os torrões úmidos, esparramando a terra sobre as sementes escolhidas para plantio.
A fé sempre florescia primeira mesmo no estio.

Dele não se fez notícias
Não se fez nenhuma ode
Nenhuma epopeia.
Ele apenas cumpriu seu destino,
Nem mais nem menos. Sempre fora ele mesmo, o que era.
Fez-se o bastante no extremo da necessidade.

Mas eu tenho dele um retrato,
O seu autorretrato,
E como pano de fundo eu vejo o céu
Estampado mulher ostentando-o nas nuvens, sua esposa;
Minha mãe.

Domingo, fim de feira, bom vadiar assim, pensando, sem eira nem beira.

23 de set. de 2012

Marisa Monte e paz celestial




E de repente Marisa Monte.
Larguei a filosofia e abri as janelas.
Os livros não guardam sons cósmicos; as palavras, elas não ferem e acariciam suave e doce tal “Sintomas de Saudade”.

Ave, Marisa!... o céu se abria.

E de repente Deus me disse: _ Pare! Vá ser feliz.
Fechei os olhos e adormeci.
Depois.

22 de set. de 2012

O roteiro


No centro velho, outrora pleno de glamour, acariciei meus olhos com arquitetura eclética e belos mosaicos. Abracei minha querida São Paulo do Ipiranga à Luz. Viajei pela República...

Ouvi vozes estranhas e gritos por independência: Os pombos, os cães, a polícia, o homem, o bicho...
Aí meus olhos se fixaram despropositadamente no bico dos sapados. Não sei por quê.

A cada passo chutava um fato, a cada fato um político e meus votos.
A cracolândia era o retrato do que eu ajudara a construir; ou destruir.
Senti calafrios.
Faltou-me uma bebida; café, uma graça, e uma bandeira.

Sobre a vida


O novo chocolate, à primeira mordida, tem um gosto amargo...
_ chega ser frustrante.
Depois que o degustamos ­_ humm!
É um verdadeiro encanto.

Na vida precisamos ter paciência.

A vitória exige paciência
O sucesso exige paciência
Um projeto exige paciência
A felicidade tem suas origens na paciência.
A própria paciência exige confiança e paciência, porquanto,
A paciência é um pacote dinâmico de artifícios com vários atributos.

O gosto final da nossa peleja, vida a fora, também depende do que extraímos desse pacote dinâmico, passo a passo.
Porque o destino se forma laço a laço.
Pra onde quer que se vá vai-se passo a passo, não importa o caminho.

O homem andava pela rua, sob a garoa paulistana, quando um carro do ano, blindado e vidro fumê, passa numa poça d’água próxima à calçada e lança aquela onda nos pedestres.  O transeunte gesticula, xinga, solta palavrões, e segue; mas já envergonhado e arrependido pelo seu comportamento.

Minutos depois entra na farmácia do shopping e alguém lança sobre ele um olhar fulminante. O homem estremece. Amor à primeira vista? Ele é tímido, mas é um tímido que tem atitude.

Durante o café os dois falam de cinema, música e literatura, o que os leva por ideias excêntricas a discutir as estranhezas de certos dias. Por fim ele fala do banho que levara na calçada. Ela, diante tal narrativa se identifica e se revela provável réu confesso. E eles riem muito e ao final do encontro descobrem que ambos têm "pegada"...

Passado certo tempo, os amigos em comum, que tanto admiram o relacionamento invejável daquela família de respeito e romantismo, pergunta-lhes qual é o segredo e como se conheceram: 
“Paciência; paciência e bom humor”, eles dizem.

21 de set. de 2012

Alguém

Alguém
Pela rua, intrépido e calmo, ou não _
Não importa; passa
Quem passa, passa, vai
Ou volta.
E há um vulto na esquina
Ereto, atento.
Mas quem tem fé é cristão, é bento.

A música _ violão e viola _ o chapéu!...
No céu estrelas, óvni, beatas, véu...
A lua indiscreta,
Quieta!

Chora
 Aurora no bar,
Um alento.
Há um vulto na esquina
Ereto, atento.
Cheiro de frutas, fim de feira.
Uma a uma as portas se movimentam
As lojas silenciam-se,
Alaridos distantes
Transito lento;
É sexta.

Há um vulto na esquina
Ereto, atento.
O poste inerte, ao pensamento indiferente,
O que ascende a luz?
Há brisa, há vento...

Passam-se horas, um minuto, dir-se-ia, eterno,
O filósofo invejaria tal cruz
_ homem de terno, lerdo!... 

Tudo seduz, _ sol de inverno.
O verão tórrido daquele universo
O poeta o devoraria, verso a verso.

Há um vulto na esquina, alheio,
Ereto, atento. Feio!
Homem?
Ladrão, assassino, turista, pedófilo, ET, alma penada? Nada! nada! nada!... nada.

Digo “bom dia!” disfarço e passo.
Se há é invisível o abraço
Apenas o laço, o salto do assalto.

Ele move a cabeça e ri, discretamente.
Veja só, coitado, também é gente.


Apátrida


Sou católico apostólico, não sei por que, romano;
Carrego o peso do pecado imaginário
Por vezes feito, praticado,
Outras, pensado, desumano.

Na verdade sou mineiro transitabirano ­_
Exímio imitante de Drummond...
Despatriado, expatriado,
Entre os montes, cabisbaixo, calado,
Falando com o mundo
Olhando pra todo o lado...
Gritando, chorando, um silêncio alado;

Sem pai e sem mãe, ninguém!
Gato-do-mato,
Alguém que se orgulhe dos versos que faço...
E  sufoquem ou sufocados, pois,
O mundo não pode respirar.

O pensamento oxigena o cérebro
“Definitivamente o homem não deve pensar”.

Viver, apenas, basta. Aquém de tudo, sem prestígio,
Gato-do-mato...
Sorte incasto.